A lembrança do amigo belga

Publicação: 22/04/2017 09:00

Manoel Amaro Pereira tem 57 anos e ainda não aprendeu a ler e escrever. O trabalho precoce no corte da cana não permitiu. Começou ainda aos oito anos. O dinheiro ajudava no sustento da mãe pobre e da irmã pequena. O pai ficou para trás depois da separação. Se hoje Manoel sabe escrever somente o nome, conta dever isso ao padre Carlos. Se não morreu doente, também. Foi o religioso quem prestou emergência ao menino à beira da morte.

Manoel ainda precisa trabalhar no corte da cana. Não conseguiu se aposentar, mesmo depois de tanto tempo suando nos canaviais. No período de entressafra, conseguiu ter tempo para observar de perto a construção da Igreja Nossa Senhora Aparecida. Diz sentir saudades daquele tempo de convivência com o padre. “De noite a gente ia para a casa do padre. Ele botava café para a gente. Era uma comida tão boa… Quando terminava, eu ia estudar. Depois do padre, ninguém mais passou fome por aqui. Se vivo sofrendo hoje é porque não tenho mais ele para me socorrer”.

Manoel anda frequentando aulas direcionadas a adultos para aprender a ler. Caminha sempre com um caderno azul, com suas anotações das aulas. Sua mãe, que deixou Surubim com os filhos crianças em busca de trabalho nos engenhos do Cabo de Santo Agostinho, ainda é viva, tem 74 anos. Mãe e filho são personagens de um tempo onde morrer de fome ou de doença era rotina. O desamparo era regra e o amparo chegava por mãos voluntárias.