CAMINHADA » Comunidade Entra Apulso unida pela paz

Publicação: 22/09/2017 03:00

As imediações da Favela Entra Apulso estavam diferentes ontem. Comerciantes e moradores colocaram bolas brancas na frente dos imóveis e os postes de iluminação pública ganharam tecidos da mesma cor. Assim como dezenas de estudantes que tomaram as ruas da comunidade em caminhada durante a tarde, pediam a paz. Os olhares dos recifenses se voltaram para a favela no domingo, quando quatro homens chegaram na esquina das ruas Arnaud Holanda com a Bruno Veloso, atiraram e atearam fogo em um veículo no qual dois outros homens morreram carbonizados.

“Está tendo muito tiro, morte e gente sofrendo. Cada pessoa que morre é um pedaço de nós. Dá tristeza. Alguns que morreram eram amigos”, lamentou Iran Oliveira, 11 anos, participante do manifesto. Luzinete Nascimento, 65 anos, foi ao protesto vestida de branco, acompanhada de uma neta e de uma bisneta. Há cerca de um mês, sofre prejuízos na venda de pamonha por conta dos conflitos na favela. “Essa é a melhor comunidade do Brasil. A gente não tem hora para chegar nem sair. Mas a gente está precisando de paz. Vendo pamonha para o pessoal de dentro e de fora, mas as vendas caíram 100%. A gente não quer que enxerguem a gente com a cidade do terror.”

A manifestação partiu da Rua Bruno Veloso, passou pela Jequitinhonha e a Tenente Domingos de Brito. A maioria dos participantes eram crianças. O movimento foi organizado pelas coordenações das escolas Abílio Gomes e Inalda Spinelli, além da Creche Nossa Senhora de Boa Viagem e Instituto Shopping. “Os acontecimentos dos últimos dias não têm sido bons. A divulgação tem sido muito negativa. A maioria dos moradores quer a paz. Precisamos de uma rede pública de atenção, seja na segurança, na educação ou no saneamento”, criticou a diretora da Escola Abílio Gomes, Beatriz Araújo. Cerca de seis mil pessoas moram no lugar. No fim do ato, o padre Luciano Brito ofertou uma bênção.

Após o crime do domingo, a PM reforçaou o policiamento na área. Segundo o tenente-coronel Wilian Araújo, do 19° Batalhão, que participou da caminhada junto com outros policiais, o local recebeu o reforço de mais três Grupos de Apoio Tático Itinerante. “O reforço deve permancer até que a comunidade volte a ficar tranquila. Já identificamos os envolvidos no duplo homicídio e um deles já está preso”, disse.
Na madrugada da quarta-feira, a PM apreendeu armas e drogas na localidade, abandonadas por um grupo de quatro jovens que fugiram do local ao testemunharem a chegada da viatura. Os suspeitos escaparam, mas deixaram o material para trás, incluindo uma metralhadora e uma granada.

Na segunda-feira, a PM retirou das ruas da favela dez câmeras instaladas em postes e fachadas. A suspeita é de que fossem usadas por traficantes para monitorar a movimentação da polícia e de grupos rivais. “Somente soubemos dos equipamentos após denúncia feita durante entrevista à imprensa”, afirmou o comandante do 19° Batalhão. Segundo a polícia, traficantes da Entra Apulso estão em guerra por território com traficantes da Irmã Dorothy.