Uma ponte com muita história e vários problemas estruturais Maurício de Nassau tem adornos quebrados em suas duas margens, pichações e quatro postes de iluminação danificados

Publicação: 03/01/2018 03:00

Símbolo de um dos episódios mais pitorescos da história pernambucana, a Ponte Maurício de Nassau completou no dia 18 de dezembro 100 anos de sua atual estrutura de concreto com sinais visíveis de desgaste, apesar de uma requalificação feita em fevereiro. A primeira passagem fluvial de grande porte do país - erguida primeiramente em madeira no século 17 - já está com danos visíveis no guarda-corpo e também nos equipamentos de iluminação. O glamour está mais na história do que no dia a dia da ligação sobre o Rio Capibaribe entre os Bairros do Recife e Santo Antônio.

Alvo da ação de vândalos, a ponte apresenta adornos quebrados ao longo das duas margens, pichações, holofotes de iluminação das estátuas quebrados e também pelo menos quatro postes danificados. A placa com informações turísticas localizada nas proximidades do Cais do Imperador, contando detalhes da história do equipamento, está enferrujada e com o adesivo descascado pela metade.

“Já perdi as contas de quantas vezes vi as pessoas danificando essa ponte”, comentou o pescador Francisco Júnior, 50, que trabalha no local há oito anos. A ponte segue, inclusive, sem sua ilustre habitante, a estátua do poeta Joaquim Cardozo. Retirada há um ano após sofrer vandalismo, ela deverá ser restituída ao lugar de origem neste ano.

Encostados no guarda-corpo, os turistas de Santa Catarina Marlene Valle, 53, e Mauro Tibaldi, 61, ressaltam a beleza que as pontes trazem ao Recife. “Pontes são elementos de conexão, é como se fossem representações de uma cidade que não quer ficar só, que está aberta às diferenças”, afirmou a professora Marlene Valle. Para eles, enquanto ponto turístico, o local deveria oferecer uma melhor estrutura de limpeza.

A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) diz que realiza sistematicamente vistorias nas pontes da cidade, para identificar problemas estruturais ou ornamentais. Serviços de manutenção são realizados todos os anos, garante o órgão. Em 2017, foram investidos R$ 790 mil na manuteção de pontes da cidade. Uma equipe será enviada ao local para vistoriar os danos. Quanto às placas, a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer disse que neste mês assinará contrato com uma empresa para reparar mais de 100 placas turísticas, com prioridade para as do Bairro do Recife.

A ponte é oriunda de um projeto antigo do arquiteto Baltazar de Affonseca, iniciado em 1640 e concluído três anos depois, com dinheiro do próprio Maurício de Nassau. À época, o conde queria realizar um grande evento para a inauguração da estrutura, em 28 de fevereiro de 1644.

Para tanto, espalhou a notícia de que faria um boi voar sobre a ponte e, usando couro do animal envolto em um balão inflável, “cumpriu” a promessa. O episódio, além de render dinheiro à coroa, eternizou-se na mística pernambucana.

Em 1742, a ponte passou por uma remodelação em pedra e madeira, mas ruiu em 1815. Outra estrutura de ferro foi inaugurada em 1865, mas ficou danificada pela ferrugem. A passagem em concreto foi inaugurada em 18 de dezembro de 1917, no governo Manoel Borba. Ao longo do tempo, perdeu vários elementos da composição original, principalmente os dois arcos - da Conceição e de Santo Antônio - que serviam de porta de entrada para as avenidas Martins de Barros e Marquês de Olinda.

“Alegavam uma mudança no trânsito para a demolição. No lugar dos dois arcos foram erguidas quatro estátuas que faziam parte do ideal de beleza francês esperado para a cidade. Uma integração e modernização que permanece até hoje”, afirma o mestrando em história na Universidade Federal Rural de Pernambuco Rafael Arruda.