Abril marca tempo de resistência

Publicação: 07/04/2018 09:00

O historiador e artista plástico Odilo Brandão, conhecido como Firo Gravura, tem uma relação de amor com o lugar. Durante a graduação em história, passou dois anos conversando com moradores e pesquisando registros. O resultado é o livro Povoado de Cuieiras: história e paisagem. A publicação conta a origem, trajetória histórica e traz um olhar sobre as paisagens econômica, sociocultural, urbano-rural e sobre a composição do povo do lugar. "Eles próprios não se reconhecem como quilombo. Com esse movimento cultural, queremos despertar essa identidade e chamar a atenção do governo para esse reconhecimento. Hoje eles estão desprotegidos da especulação imobiliária."

Cuieiras, conta Firo, teve uma intensa produção de cal por conta de uma jazida de pedreira calcária. A exploração se deu primeiro com a mão de obra escrava e depois com a semi-escrava. O lugar chegou a ter duas empresas de produção de cal. A indústria durou até a década de 1930. O negócio atraia gente até da Região Metropolitana do Recife, mas com seu fim e a chegada da fábrica Poty, em Paulista, foi registrado o primeiro êxodo de Cuieiras. O segundo êxodo, conta Firo, aconteceu com o fechamento da Poty, no começo da década de 1980. “Muita gente partiu para uma fábrica nova na Paraíba. O terceiro êxodo acontece nos anos 2000, com a violência urbana marcada pelos assaltos às residências”.

Firo relata que até a década de 1950, a presença de expressões afro-descendentes era marcante. A cada final de semana, diz, havia até seis sambadas no povoado, além de cortejo de maracatu e mamulengo. A chegada de um templo protestante ocasionou um certo esvaziamento da prática. Além disso, os êxodos aumentaram a ausência das expressões culturais. "Na década de 1990, já não se via mais sambadas. A única cultura que resiste há cem anos é a Catirinas de Cuieiras."

Em abril de 1890, a polícia chegou de forma violenta ao povoado. Havia perseguição por conta da prática cultural. Por isso abril foi escolhido para trabalhar como mês de resistência. Veja programação completa no site www.diariodepernambuco.com.br