O carnaval bem na porta de dona Célia

Publicação: 22/02/2020 03:00

Maria Célia, a mãe de Flávia e matriarca dos Oliveira, prepara algumas roupas carnavalescas em sua máquina de costura, montada na sala de estar do imóvel. São peças reaproveitadas de carnavais passados, onde ela vai acrescentar alguns elementos simples para dar mais alegria às roupas. Confecciona para os netos que passarão o carnaval com ela, em casa, filhos de Flávia. “Não dá para brincar. Eu olho os filhos da minha filha. Mas vou na rua para ver o movimento”, pontua.

A aposentada criou os três filhos na V8 e hoje a maioria deles ainda mora no lugar. Dos dez netos, apenas dois vivem em Jaboatão dos Guararapes, junto com um filho dela. Maria trabalha com católicos da Pastoral da Criança. Conhece de perto a situação de miséria das famílias do lugar.

“Tem muita gente pobre que não tem o que comer. Também há mulheres com muitos filhos, sem marido, sem condição psicológica e financeira, sem assistência, sem emprego. Elas também não têm como trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos.” Uma vez por mês, Maria e Flávia lideram a cozinha em uma ação da pastoral dentro da V8. Nesse dia, as crianças são pesadas para saber como anda o processo nutricional. Ao todo, 170 meninos e meninas são acompanhados.

Em 2009, a V8 começou a receber uma série de ações de infraestrutura previstas em uma parceria entre os governos federal, estadual e municipal. No pacote, havia construção de casas com saneamento, água e luz; revestimento e alargamento do antigo Canal da Malária, cuja área hoje se chama Beira Canal; pavimentação e drenagem de ruas, além de construção de áreas de esporte e lazer e recuperação de mangue. O lugar também passou a ser conhecido como Portelinha, um condomínio de favelas citado, na época, em uma novela da Rede Globo. O V que antecede os números 8, 9 e 10 se refere ao nome vila.

Na manhã da visita à família Oliveira, havia uma festa de carnaval em uma escola do bairro mantida pelo Rotary. As crianças foram convidadas a participar fantasiadas. E Camile Vitória, 6, a filha mais nova de Flávia, estava sem fantasia. De última hora, diante do choro da menina, a comerciante conseguiu uma roupa de bruxa. Foi em um bazar perto de casa. Custou R$ 20. E Camile findou o choro na hora. Festa de carnaval na escola é sinônimo de criança fantasiada e a rua ganha mais cores.