Fim de uma controversa saga do Enem Segundo e último dia de provas do Enem 2021 teve questões de matemática e ciências da natureza, em uma edição marcada por polêmicas e ausências

Lara Tôrres
local@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 29/11/2021 06:20

Chegou ao fim a saga de milhares de alunos pelo Brasil que fizeram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021. Ontem, o segundo dia do certame teve 45 questões de matemática e 45 de ciências da natureza. Segundo o Inep, responsável pela avaliação, os gabaritos oficiais serão liberados até a próxima quarta-feira, assim como os cadernos de provas. Já os resultados só sairão depois da segunda quinzena de janeiro, devido à segunda aplicação do exame para candidatos privados de liberdade, que adoeceram de Covid-19 e isentos de taxa que faltaram.

Principal porta de acesso ao ensino superior, o exame deste ano, assim como em todos os que o antecederam na atual gestão do governo federal, esteve cercado de polêmicas. Os problemas vão desde a recusa da isenção de taxa para alunos que faltaram ao exame de 2020 por medo da Covid-19 (e posterior reabertura do prazo de solicitação), até a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que a prova teria “a cara do governo”, acompanhada de demissão em massa no Inep, com denúncias de ingerência do governo sobre os conteúdos da prova.

Tudo isso culminou num cenário com apenas 3.109.762 de inscritos, menor número desde 2005, quando o exame servia apenas para avaliar a qualidade do ensino médio. A esse quadro, soma-se uma abstenção de 26% dos inscritos no primeiro dia de provas.

Ontem, nos locais normalmente lotados de estudantes, familiares e comerciantes, como as vias de acesso aos blocos da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), tradicional ponto de aplicação da prova, havia poucos alunos até instantes antes da abertura dos portões, quando comparado ao movimento habitual.

TENSÃO E EXPECTATIVA

Analice Firmino de Oliveira, 43 anos, já perdeu as contas de quantos exames fez. Atualmente cursando licenciatura em filosofia na UFPE, ela deseja cursar história simultaneamente. Cadeirante, ela elogiou a estrutura de acessibilidade desta edição. “Ano passado, foi um terror. O apoio do pé era ruim e a carteira, que também precisa ser adaptada, era péssima.”

Já Dayana de Paula Santos tem 18 anos, cursa o 3° ano do ensino médio e está fazendo seu segundo Enem com o objetivo de ingressar no curso de psicologia. A jovem não tem computador, mas conta que conseguiu estudar através do celular, mesmo que, por vezes, enfrentasse problemas de conexão. Seu primeiro dia de provas foi tenso em razão da redação, cuja proposta julgou “complicada e inadequada para jovens”, além de “muito abrangente, como o governo disse que seria”, com textos de apoio que não ajudaram.

Fala, professor!

A convite do Diario, professores do Colégio Núcleo comentaram as provas do segundo dia:


“Nós nos deparamos com uma prova mais voltada às necessidades do mundo moderno. Necessidades mais práticas, onde o participante precisava tomar decisões sobre otimização, ser protagonista da situação e não, meramente, um aplicador de fórmulas. Claro que foram abordados temas técnicos, como probabilidade, combinatória e até função trigonométrica. No entanto, o que liderou a matemática neste Enem foram conteúdos mais generalistas, como estatística, razão, proporção, porcentagem, análises gráficas e interpretação de tabelas. De um modo geral, uma prova que traz a cara do futuro e dá preferência aos temas mais relevantes do ensino básico.”
Valdemar Santos, matemática

“A prova foi extremamente equilibrada e bem distribuída nos objetos do conhecimento e nas habilidades. Os conteúdos foram abordados de forma a contemplar a aplicação  ao cotidiano, valorizando o aluno que enxerga a matemática além dos números e equações. Destaco nesse ano, novamente, a forte presença da lógica, estatística e leitura de gráficos.”
Fernando Sánchez, matemática

“A prova de física valorizou o bom aluno, aquele que veio aprendendo progressivamente, com o conhecimento construído a partir da própria experiência de vida. Gostaria de evidenciar a questão 128 da prova azul, sobre carros elétricos e tempo de recarga de suas baterias. Uma questão que envolve uma resolução ‘tradicional’ para uma problemática moderna. Gostaria de acrescentar também que a compreensão dos fenômenos elétricos/magnéticos correspondeu a um terço da prova de física deste ano.”
Rogério Andrade, física

“A avaliação de ciências da natureza contemplou uma média de 18 questões envolvendo biologia. Trouxe questões que contemplou o desastre de Mariana (MG), evolução, trabalhando a complexidade animal no aspecto do mimetismo, temas que estão conectados à botânica, ecologia e fisiologia.”
Alan Barros, biologia

“A prova de química foi muito bem elaborada e abrangeu objetos do conhecimento importantes para as competências exigidas. Destaque para os assuntos de eletroquímica envolvendo a ddp, célula de combustível e reações de óxido e redução. Na parte de química ambiental, foram contemplados temas como  tratamento de esgoto, reciclagem e fontes alternativas de energia (biogás).”
Aluísio Araújo, química