Diario vive resgate histórico na UFPE Laboratório Liber, da Universidade Federal de Pernambuco, conduz trabalho internacional para preservação de jornais antigos do Brasil e de Portugal

Beatriz Venceslau
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Publicação: 24/09/2022 07:15

Para valorizar memórias e unir cuidados e esforços na recuperação de registros da história, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) conduz, neste momento, um projeto para recuperação de jornais centenários do Brasil e de Portugal. Entre as relíquias, estão exemplares dos primeiros anos de circulação do Diario de Pernambuco, que fará uma apresentação desse resultado em seu bicentenário, em 7 de novembro de 2025. Essa data ainda marca o aniversário de 200 anos de existência da imprensa de língua portuguesa e de toda a América Latina.

A proposta, que tem o Google cotado como um dos financiadores, deu-se através de uma parceria internacional firmada entre o Diario de Pernambuco, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Associação da Imprensa de Pernambuco (AIP), as universidades portuguesas de Aveiro e Évora e a Associação Portuguesa de Imprensa.

Atualmente, mais de trinta mãos modelam o projeto, sendo seis professores, quatro técnicos e oito estudantes. Durante o trabalho voluntário, todos utilizam materiais de proteção individual, como luvas, máscaras e macacões. O processo de resgate acontece no laboratório Liber, no Centro de Artes e Comunicação (CAC) da instituição, e é coordenado pelo professor Marcos Galindo, que conta com o apoio dos departamentos de engenharia nuclear, química e microbiologia. Além do Diario de Pernambuco, estão sendo recuperadas edições de jornais como O Pequeno, Diário da Tarde e Diário da Manhã, além de jornais portugueses.

O projeto está em sua primeira fase, mas deve se estender por, pelo menos, mais duas décadas. Até lá, os envolvidos tentam solucionar um dos questionamentos que movem o trabalho. “Qual tecnologia a gente pode usar para desenvolver a preservação da memória?”, perguntou o professor.

Passo a passo

O trabalho na instituição tem quatro etapas: resgate, tratamento, preservação e acesso. A primeira delas é encarada como um “acordo” pelo professor, porque  normalmente alguns contratos precisam ser feitos entre ele e as instituições que entregarão os jornais antigos. “A primeira coisa é o resgate, que funciona sempre como um processo de convencimento. Você não pode chegar e dizer para confiarem em você”, explicou.

Já os dois próximos passos, concretizam o cenário onde acontece a recuperação dos materiais, seguindo a lógica de que é melhor prevenir que remediar.

Esse processo de desgaste, aliás, é observado com naturalidade. As pirâmides no Egito e a Torre Eiffel, em Paris, foram duas representações dadas para explicar o caso. “A gente trabalha com uma abordagem antrópica, que vê isso como um processo natural. Tudo o que está acontecendo faz parte da natureza. As coisas que estão na natureza, tendem a degradar. As pirâmides do Egito um dia vão se acabar, a Torre Eiffel, que é de ferro, um dia vai se acabar. Isso tudo vai degradar e ter um fim. A preservação é esse processo de estabilização e tratamento, pra poder a gente manter essas estruturas”, disse Galindo.

O contato direto dos alunos, professores e técnicos com os jornais antigos também pode ser prejudicial à saúde. Por isso, uma etapa de verificação antecede o início dos trabalhos. Esse laudo é fornecido através do departamento de engenharia nuclear da própria UFPE. “A gente espera o resultado da engenharia nuclear, que vai dar uma condição da gente tratar e estabilizar para começar a trabalhar. Alguns jornais vão precisar de restauro mesmo, vamos ter que dissecar, abrir, lavar. É um processo demorado e caro, mas temos que fazer. Se não fizer isso, ele vai desaparecer.”

A parte final - e mais esperada - é quando os jornais, já recuperados, voltam a “circular” na sociedade, mas agora de forma apreciativa. Essa logística é apontada pelo professor com uma projeção otimista, mirando na multiplicação do acesso ao conteúdo, que deve voltar a ficar à disposição durante a comemoração dos 200 anos de existência do Diario de Pernambuco.

“Quando você digitaliza e coloca nas mãos das pessoas, você reproduz. Vou ter milhares de vezes a capacidade que tenho hoje”, destacou.