Com 90 anos, idosa retorna às salas de aula para cursar jornalismo Unicap teve aumento de 200% de idosos por conta do programa Unicap Prata 50+: Universidade não tem idade

Marina Costa
Estúdio DP

Publicação: 25/04/2024 03:00

Estimular o cérebro, melhorar a memória, preservar as habilidades socioemocionais e promover a autonomia. Esses são alguns dos benefícios alcançados por estudantes que voltam a estudar na terceira idade. Com quase quatro anos de atuação na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), o programa “Unicap Prata 50+: Universidade não tem idade”, voltado para pessoas com mais de 50 anos que desejam voltar para o ambiente acadêmico, é responsável pelo aumento de 200% na presença de idosos na instituição nos mais diversos cursos de graduação, pós-graduação, especializações, mestrados e doutorados.

A estudante do 1º período do curso de jornalismo de 90 anos, Dorothi Lira da Silva, é um exemplo vivo de que a universidade realmente não tem idade. Mãe de seis filhos, avó de seis netos e quatro bisnetos, Dorothi iniciou a sua carreira em 1967 como professora de matemática em sua terra natal, Palmares, na Mata Sul de Pernambuco, após se formar no curso de Ciências Físicas e Biológicas. Além de atuar diretamente no ensino de crianças e adolescentes, a idosa também foi supervisora e diretora de outras instituições da rede estadual.

Para se manter no ensino, ela investiu em outra formação em 1977: a de pedagogia. Após 27 anos de dedicação à formação de jovens e outra graduação em Ensino Religioso em 1980, a professora se aposentou em 1994 e se mudou com a família para Olinda, na Região Metropolitana do Recife. Com seis filhos adultos, adiou os planos de voltar para a sala de aula até 2019, quando ingressou no curso de Direito em uma faculdade de Olinda.

“Eu pensei muito no que fazer durante a minha aposentadoria. Decidi voltar ao meio acadêmico e prestei o vestibular para o curso de Direito. Contei com o apoio de todos os membros da minha família ”, explica Dorothi. A aposentada precisou fazer o vestibular, ao invés de entrar como portadora de diploma, porque perdeu todas as suas certificações durante a cheia que atingiu Palmares em 2010.

Após se formar como bacharel em Direito no final do ano passado, não perdeu tempo e ingressou no curso de jornalismo da Unicap em 2024. Porém, o relacionamento de Dorothi com o jornalismo começou décadas antes de iniciar o curso na Católica. Durante a sua adolescência, lia os artigos do Diario de Pernambuco para o pai, que era analfabeto, e tomou gosto pela escrita e pela leitura. “Meus professores sempre me incentivaram a escrever, mas eu nunca tive tempo. Quando me formei, pedi para o meu neto que mora comigo procurar sobre o curso de jornalismo e já emendei um curso com o outro”.

Com uma turma de 18 alunos formada por jovens de 17 e 18 anos, Dorothi virou o xodó da turma. Os colegas estão disponíveis para ajudá-la em todos os momentos: desde a acessar a biblioteca e pegar os livros recomendados pelos professores até a locomoção pelo campus da Unicap. Em paralelo a graduação em jornalismo, a aposentada também está fazendo um curso de computação.

Para o professor de Fundamentos do Jornalismo, Filipe Falcão, é interessante observar a interação dos estudantes com a aposentada. “O curso de Jornalismo não tem idade, é uma profissão necessária para todas as idades. É muito bom ver que a turma abraçou Dorothi, apesar da diferença de idade. Ela é uma aluna muito participativa, que traz dúvidas e faz questionamentos”, conta.

FUTURO ACADÊMICO
Antônio Gonçalves, de 80 anos, é outra prova de que a universidade não tem idade e que voltar a estudar na terceira idade traz inúmeros benefícios para a saúde. O idoso, nascido em Fortaleza, iniciou a sua carreira profissional em 1968, após se formar em Contabilidade. Pai de três filhos, se mudou para Recife em 1976, quando foi convidado para  trabalhar como contador no Grupo Brennand. Durante a sua trajetória, foi promovido para Gerente Financeiro e participou de concursos internos para outros cargos dentro da empresa.

Em 1995, deixou o cargo no grupo Brennand e se aposentou. Porém, não parou com a aposentadoria. Durante anos, o contador aposentado prestou consultoria em pequenas empresas e cursos para formar executivos nos estados do Norte e do Nordeste. Além disso, voltou para o meio acadêmico ao ingressar na pós-graduação de controladoria e ser contratado como professor substituto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele seguiu na docência até 2015, quando assumiu a gerência de uma franquia de cursos de inglês.

“Fui muito bem recebido pelo Unicap Prata 50 quando iniciei a minha pós-graduação em gerontologia em 2022. É uma ciência relativamente nova, mas que trabalha o ser humano do nascimento até a morte”, explicou Antônio, que hoje milita pelos direitos dos idosos. “Me identifico muito com os jovens e acredito que a troca de conhecimento com eles, assim como a troca deles, é essencial para a formação de profissionais para o mercado de trabalho”.

Antônio finaliza a pós-graduação em gerontologia em maio e já emenda com o mestrado em psicologia clínica, também pela Unicap. Homenageado pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) pelo seu trabalho na área do direito dos idosos, o aposentado quer tornar o Estatuto dos Idosos uma cartilha obrigatória para todos os tipos de estabelecimentos e ambientes.  

“O envelhecimento não é doença. Por isso, eu convido todas as pessoas com mais de 50 anos para voltar ao ambiente acadêmico para se renovar, exercer a mente e aprender novos conteúdos através de diversos cursos”, finaliza.