"Surfe" em ônibus desafia autoridades Em grupos nas redes sociais, grupos marcam encontros para se ariscarem. Na último semana, um rapaz ficou ferido "surfando" na BR-101

MAREU ARAÚJO

Publicação: 22/07/2024 03:00

Ao menos duas vezes por semana, vídeos de jovens praticando “surfe” ou pegando “carona” pendurados nas janelas e portas dos ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR) circulam nas redes sociais. A prática tem desafiado as autoridades a achar uma solução para algo que sempre foi comum no dia-a-dia da Região Metropolitana do Recife.

Nos últimos três anos, quatro adolescentes morreram e dois acabram mutilados por conta desses atos criminosos. Um deles é recente; na última quinta (18), um jovem de 17 anos estava “surfando” na BR-101 quando policiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) abordaram o ônibus, o rapaz tentou fugir e quebrou os dois tornozelos.

“Normalmente são jovens, crianças e adolescentes, que querem se colocar em uma situação de risco. Eles já estão lá com o pensamento de utilizar o ônibus como uma vitrine de auto projeção para se mostrar para os amigos”, relata Matheus Freitas, diretor-presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes.

Famoso também exterior, o “bigu”, como é chamada a prática de pegar carona nos ônibus, e o “surf” já ganharam os holofotes do jornal norte-americano The New York Times. Na ocasião, o fotógrafo e jornalista Victor Moriyama fez uma reportagem em 2017 sobre a prática do surf nos ônibus.

Na entrevista, o então líder do grupo “Loucos do Surf”, Marlon, contou que a escola não o atraía. “Ao invés disso, ele disse, quando ele estava sentado com um livro, ele sentia que estava perdendo tempo que poderia ser gasto surfando”, escreveu o jornalista na reportagem.

Nas redes sociais, é possível encontrar páginas de grupos que marcam encontros para realizar a prática. Um deles soma mais de dez mil seguidores. Segundo o Grande Recife, é através dessas páginas que grupos se reúnem para marcar encontros para praticar “morcegamentos” e surfes. Nos vídeos, meninos e meninas aparecem surfando na capota dos ônibus em algumas avenidas da Região Metropolitana do Recife, cantando, ouvindo música e dançando enquanto “se divertem”.

Matheus explica que a prática é feita, normalmente, em locais de grande visibilidade, como por exemplo, na avenida Domingos Ferreira, na Conselheiro Aguiar e na Avenida Norte. “Não somente no Recife, mas também em Olinda, Jaboatão, São Lourenço da Mata, e em especial, em Camaragibe”.

Para ele, os jovens praticam o “surf” e o “morcegamento” justamente para isso: se divertir. “Já teve adolescente que perdeu o braço, outros que morreram, outros que provocaram acidentes, então apesar de podermos ter uma visão social de categorizá-los como pessoas de baixa renda, eles procuram muito mais um momento de adrenalina e filmagem para colocar nas redes sociais. É isso que a gente tem visto”, afirmou. “Pelo que parece, eles se colocam em algum tipo de competição, querendo provar que são capazes”.

A prática, que para alguns pode ser considerada como diversão, pode causar sérios acidentes de trânsito. “Eles não têm a responsabilidade de notar que estão colocando a vida de outras pessoas em risco. Então, é muito sério. É um crime. O Ministério Público tem nos cobrado ações a respeito da identificação dessas práticas criminosas, para que essas pessoas sejam identificadas e sejam tomados os devidos atos para correção”, diz Matheus Freitas.