Demócrito: 80 anos de um tiro na praça Morte do jovem estudante de Direito, baleado pela polícia política de Vargas, foi relembrada ontem na Faculdade de Direito do Recife

ADELMO LUCENA

Publicação: 25/03/2025 03:00

Busto de Demócrito recebeu uma nova placa em sua homenagem nos jardins da FDR (RUAN PABLO/DP FOTO)
Busto de Demócrito recebeu uma nova placa em sua homenagem nos jardins da FDR

A Faculdade de Direito do Recife (FDR) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (APLJ) realizaram, ontem,  um evento em memória dos 80 anos do assassinato do estudante Demócrito de Souza Filho, morto em 3 de março de 1945, no antigo prédio do Diario de Pernambuco, durante um protesto contra a ditadura do Estado Novo imposta por Getúlio Vargas.

Denominado “O estudante Demócrito: 80 anos da luta pela Democracia em 1945”, a cerimônia contou com a presença de juristas, estudantes e familiares do antigo estudante da própria FDR. Entre eles, o reitor da UFPE, Alfredo Gomes; e a presidente da APLJ, Rosana Grimberg. A programação começou com a aposição da placa em homenagem ao “Soldadinho da Democracia”, como Demócrito foi apelidado pelo então inspetor de alunos da época, Armando Vasconcelos.

Também foi aberta a exposição “80 anos: Demócrito permanece vivo”. A mostra, organizada pela Biblioteca e Arquivo da Faculdade de apresenta documentos originais que retratam o jovem estudante por meio de provas, livros e manuscritos. Visitantes podem conferir a exposição gratuita até 4 de abril, das 7h às 21h, na Faculdade de Direito do Recife.

DEMOCRACIA
Membro efetiva da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (A.P.L.J) Marta Brito Alves Freire – também prima de Demócrito - esteve presente na cerimônia e afirmou que a exposição é “o conjunto, do mundo acadêmico, universitário, jurídico e dos operadores de Direito com o sentido de preservar uma memória que não deve ser esquecida em prol da democracia e contra toda forma de violência possível”.  Já a presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito do Recife – que leva o nome do estudante -, Mikelly Tawane, afirmou que o evento desta segunda traz o debate sobre a defesa da democracia e permite que a história do Demócrito não seja esquecida.

CRIME
Demócrito de Souza Filho era líder estudantil da Faculdade e chegou a ser preso em 7 de setembro de 1944 por suas posições contra Vargas. Em 2 de março de 1945, ele e o estudante Jorge Carneiro da Cunha resgatam uma foto do então ditador e distribuíram seus pedaços no restaurante Lero-Lero. A polícia política foi acionada para o caso e os dois estudantes se refugiaram no antigo prédio do Diario de Pernambuco.

No dia seguinte, estudantes realizaram um comício na Praça da Independência, diante do local de refúgio. No momento em que Gilberto Freyre discursava, a polícia disparou em várias direções e uma de balas atingiu Demócrito que caiu baleado na sacada do prédio.

Ele foi levado para o antigo Hospital de Pronto Socorro, mas morreu no mesmo dia. Sua morte causou grande impacto sobre o governo, que passou a ser responsabilizado. No seu enterro, compareceram os professores vestidos com suas becas e uma multidão seguiu a pé até o cemitério de Santo Amaro. O Estado Novo acabou logo após a deposição de Getúlio Vargas, no final de outubro de 1945.