Iniciativa transforma bagaço da cana em produtos de alto valor
Biotec Tecnologia e Inovações é liderada pela mestranda Santulla Bernardes, que tem atuação no setor
ADELMO LUCENA
Publicação: 19/05/2025 05:00
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O trabalho vem sendo desenvolvido na UFPE, com a participação de especialistas |
No coração da Biotec Tecnologia e Inovações, uma startup pernambucana comprometida com a sustentabilidade, Santulla Bernardes lidera uma revolução silenciosa. Engenheira química, especialista em Gestão Ambiental pela Alemanha e mestranda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ela tem transformado o bagaço de cana-de-açúcar em produtos de alto valor agregado, como xilitol, sorbitol e lignina.
A escolha do tema do mestrado surgiu depois de mais de 15 anos de atuação no setor sucroenergético, indústria que envolve a produção de açúcar, álcool (principalmente etanol) e outros derivados da cana-de-açúcar, como energia elétrica e fertilizantes. “Durante visitas técnicas a diversas usinas no Brasil, percebi uma dor recorrente: o acúmulo excessivo de bagaço de cana, que apesar de parcialmente utilizado para geração de energia, apresentava um grande potencial ainda subaproveitado. Com a queda do valor da energia renovável no mercado, era urgente diversificar as aplicações desse resíduo”, conta Santulla.
PESQUISA
Com o apoio do professor Nelson Medeiros, a mestranda iniciou uma pesquisa de alto nível no Departamento de Engenharia Química da UFPE. “Desenvolvemos tecnologias capazes de transformá-lo em produtos de alto valor agregado, como xilitol, sorbitol e lignina — compostos com aplicações relevantes nas indústrias farmacêutica, alimentícia, cosmética, química, automobilística, aviação, entre outras.
Essa convergência entre conhecimento científico e necessidade do mercado foi o ponto de partida do meu doutorado”, explica Santulla. Na Biotec, ela conta com uma equipe multidisciplinar composta por profissionais com vasta experiência industrial e acadêmica.
Entre os nomes de destaque estão a professora Yeda Medeiros Bastos Almeida, especialista em polímeros, e o professor Marcos Antônio de Morais Jr., referência em genética de micro-organismos, e Adilson Nascimento, que é COO da Biotec, com vasta experiência em gestão operacional e inovação tecnológica. Também atuam no projeto Rafael Barros de Souza, especialista em Metabolismo Microbiano, UPE, e Sérgio Peres, conselheiro técnico.
“Nossa linha de pesquisa contempla tecnologias para produção de xilitol, sorbitol, lignina, biogás, biometano, hidrogênio, SAF, entre outros, a partir de biomassas como bagaço de cana, cavaco de madeira, casca de coco, bambu, palhas agrícolas, etc”, detalha Santulla.
JUNÇÃO
A mestranda ainda conta que a Biotec nasceu do desejo de unir a ciência acadêmica com as necessidades reais da indústria. “Hoje, a Biotec atua em diversos setores — químico, alimentício, farmacêutico, cosmético, agropecuário, construção civil, aviação e automotivo — oferecendo alternativas sustentáveis e de alto valor agregado. Somos um hub de inovação em bioeconomia, com foco na valorização ambiental e financeira dos resíduos, sempre com pegada de carbono positiva.
Um dos parceiros da pesquisa foi a Usina Trapiche, que forneceu o bagaço de cana necessário para o desenvolvimento dos processos. “A Usina Trapiche foi uma grande parceira e disponibilizou todo o bagaço necessário ao longo do meu doutorado. O apoio das indústrias foi fundamental para viabilizar a pesquisa e garantir sua aplicabilidade prática”, comenta Santulla.
Os processos desenvolvidos pela Biotec envolvem etapas rigorosas de pré-tratamento, extração, purificação e secagem. A startup desenvolve os processos em escala laboratorial com potencial para expansão industrial.