Ria se puder
Em meio ao medo no Brasil e no exterior gerado por pessoas fantasiadas de palhaço, enciclopédia retrata a face assustadora das figuras nas produções da cultura pop
texto: Fellipe Torres | fellipe.torres@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 10/12/2016 03:00
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A princípio, autoridades chegaram a cogitar uma histeria coletiva - não haveria os tais palhaços, apenas um fenômeno psicológico. No entanto, os casos se multiplicaram, assim como as evidências em fotografias e vídeos, para o desespero do grande número de pessoas com pânico de palhaços (coulrofobia), sejam crianças ou adultos. Junto a isso, surgiram relatos de espancamentos e prisões dos indivíduos fantasiados.
A repulsa por palhaços - geralmente acompanhada de ataques de pânico, perda de fôlego, arritmia cardíaca, suores e náusea - não é facilmente explicada, haja vista as divergências entre pesquisadores do assunto. Para alguns, o medo se baseia em uma experiência pessoal com algum palhaço na infância, como um constrangimento durante espetáculo. Outros acreditam na forte influência da mídia e da cultura pop, sobretudo diante da associação da figura caricata a filmes de horror na televisão, no cinema, na literatura, nos quadrinhos. Esse primeiro contato geraria uma pré-disposição ao medo.
Pesquisa realizada em 2014 pelo instituto YouGov, na Inglaterra, apontou o palhaço como o décimo colocado em um ranking de elementos com maior potencial para despertar fobia. Participaram 2 mil pessoas. Outro estudo publicado pela revista New Ideas in Psychology apontou o fator da imprevisibilidade como algo fundamental para despertar a desconfiança do público em relação aos palhaços. Cerca de 1,3 mil voluntários com mais de 18 anos listaram características consideradas por eles assustadoras e fizeram um ranking das profissões mais arrepiantes. Os palhaços lideraram com folga.
Cientes do fascínio pela figura do palhaço assassino em várias mídias, o coletivo Boca do Inferno - formado por Marcelo Milici, Filipe Falcão, Gabriel Paixão, Matheus Ferraz e Rodrigo Ramos - lançou Medo de palhaço: A enciclopédia definitiva sobre palhaços assustadores na cultura pop (Generale, 288 páginas, R$ 59,90). O livro - ainda sem previsão para lançamento no Recife - analisa mais de 150 obras e busca explicações para a coulrofobia na história e na psicologia.
Para o pesquisador e jornalista pernambucano Filipe Falcão, o palhaço é uma figura facilmente identificável e com potencial para despertar o interesse do público. “No cinema, por ter ganho essa importância, tornou-se parte de uma receita fácil. É como um filme de zumbi. Não precisa ter roteiros mirabolantes, diferentemente de produções de drama e aventura, cuja audiência é mais exigente”, opina. Segundo o autor, os longas-metragens protagonizados por palhaços têm grande variedade, indo desde filmes muito bem produzidos até alguns de baixíssimo orçamento, com um elenco mais fraco.
Um divisor de águas, segundo ele, foi a adaptação, no fim dos anos 1980, do livro It (A coisa), escrito por Stephen King. Isso porque o palhaço deixou de ser coadjuvante - em produções “trash”, “bagaceira” - para se tornar um dos principais vilões da época. Sobre a recente onda de “palhaços assassinos” em espaços públicos, Filipe diz ter sido uma “feliz coincidência”, pois se tornou a “melhor divulgação possível” para o livro recém-lançado. “A brincadeira é válida, mas é preciso ter uma série de cuidados, principalmente com pessoas mal intencionadas. O problema do palhaço, assim como todo personagem mascarado, é não saber quem está lá”, finaliza.