A sede do encontro de grandes gerações

Publicação: 19/10/2020 03:00

Justamente por ser uma porta aberta para artistas e intelectuais, a Livro 7 foi a casa de três gerações de escritores, e Tarcísio Pereira foi o patrono. No início dos anos 1990, inclusive, ele foi congratulado pela Academia Brasileira de Letras com o Mérito Cultural pela Divulgação da Literatura. “Tive a honra de receber na livraria lançamentos da geração 1945, 1965 e 1980”, orgulha-se. Um desses lançamentos foi com João Cabral de Melo Neto, que tomado por uma de suas clássicas enxaquecas, estendeu uma apresentação de Morte e vida severina em uma noitada, acompanhado de seu uísque - que, segundo Tarcísio, foi remédio certo para o fim da dor de cabeça.

Exposições e performances com nomes como Paulo Bruscky, Cavani Rosas e Katia Mesel, “palinhas” de Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Robertinho do Recife com o violão sempre à disposição dos frequentadores. São incontáveis momentos memoráveis. Outra empreitada inesquecível foi a noite em que Tarcísio juntou, em um bate-papo, Raimundo Carreiro e Marcus Accioly, dois dos maiores nomes da literatura pernambucana. “Foi uma loucura de gente na Livro 7. Tanto que, do nada, apareceu um cara do Detran para falar comigo. Veio reclamar que o evento engarrafou a Rua do Riachuelo.”

Essa relação com os escritores era expressa não só em presenças físicas, mas nas paredes da livraria, repletas de retratos assinados. Era um ponto em que o pernambucano poderia se reconhecer culturalmente, como pontua o economista e escritor Jacques Ribemboim. “A Livro 7 inovou em muitos aspectos, mas acima de tudo, tornou-se um símbolo de pernambucanidade. Ali, o público se via refletido nos autores que estavam expostos em suas centenas de metros de estantes e gôndolas.”

TROÇA DE CARNAVAL

Entre os mais conhecidos e irreverentes legados da livraria, está o bloco carnavalesco Nóis Sofre… Mas Nóis Goza. Dois anos mais novo que o Galo da Madrugada, em um tempo de censura e de um carnaval ainda dominado pelos clubes, a troça começou a partir de uma brincadeira. “No Carnaval de 76, um grupo de poetas da geração de 65 pegou uma toalha de mesa e uma vassoura para fazer de estandarte e saiu até a Guararapes. Ficaram bebendo ali e, quando apareceu uma troça, um folião soltou: ‘Tem que brincar mesmo. Porque nóis sofre, mas nóis goza'”, comenta Tarcísio.

Um frequentador histórico da livraria e do bloco é o ilustrador Lailson de Holanda. Desde a primeira fase da Livro 7, o artista encontrava no espaço um reduto de liberdade e criação. “Todos os meus livros até o fechamento da Livro 7 foram lançados lá. Na parte de trás tinha um palco em que fizemos muitos shows do Papa-Figo, que começou como um jornal humorístico e virou uma banda satírica formada por mim, Teles, Clériston e Bione. A vida acontecia ali”, pontua.