Dilma já escreve sua nova história
Após o término da votação no Senado que aprovou seu impedimento, a petista declarou, em discurso na rampa do Alvorada, que "vai voltar"
Glauce Gouveia
glaucegouveia.pe@dabr.com.br
Publicação: 01/09/2016 03:00
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Aliados acompanharam a ex-presidente e apaludiram seu discurso no Alvorada |
Quando uma história termina, outra começa. E a partir de hoje, a agora ex-presidente Dilma Vana Rousseff dá início a uma nova fase de sua vida. Destituída da Presidência da República mas com a garantia do direito de assumir cargos públicos - inclusive eletivos -, a petista avisou, ontem, em novo discurso, que poderá voltar em breve ao cenário político brasileiro. “Essa história não acaba assim. Nós voltaremos”, anunciou.
O discurso de Dilma, feito na rampa do Palácio da Alvorada, saiu da linha que seguiu nos últimos meses. Nele, a ex-presidente se defendeu menos e contra-atacou mais o novo governo do agora ex-presidente interino Michel Temer (PMDB). Apesar de ter repetido ter sido vítima do segundo golpe da sua trajetória, sendo o primeiro “militar”, “armado”, e o segundo “parlamentar”, que chamou de “farsa jurídica”, Dilma fez uma “ameaça” ao grupo político que a tirou do poder.
“Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.” E, enfática e lentamente, Dilma repetiu: “Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.”
O discurso de Dilma durou cerca de 12 minutos. Nesse tempo, ela também definiu o “golpe” que vem denunciando desde que o processo de impeachment foi aceito na Câmara pelo ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha. “O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista.”
As acusações que a petista fez contra os adversários também ganharam ontem mais cor. Logo depois de dizer que a aprovação do impeachment foi uma “inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos”, Dilma mirou a ex-oposição (a seu governo) e atual situação (ao governo Temer) e enfatizou: “Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis aprovadas e sancionadas a partir de 2003, e aprofundadas em meu governo, levem justamente ao poder um grupo de corruptos investigados”. A referência indireta foi à Operação Lava-Jato.
Durante o discurso, a ex-presidente estava ao lado de ex-ministros e parlamentares aliados. Foi observada de longe pelo ex-presidente Lula, que preferiu assistir à fala da sucessora do alto da rampa. Foi de lá que foi aplaudido ao ser citado pela sucessora e a aplaudiu - especialmente quando ela encerrou o discurso, ratificando, nas entrelinhas, a possibilidade de voltar à vitrine política: “Não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles como já o foi em décadas passadas. Não direi adeus a vocês, direi até daqui a pouco.”