CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Crise expõe fragilidade do governo Michel Temer Negociação pela suspensão da greve mostrou o distanciamento de antigos aliados no Congresso

Publicação: 25/05/2018 08:30

A greve dos caminhoneiros expôs a fragilidade do governo Michel Temer, revelou movimentos políticos para as eleições de outubro e mostrou o distanciamento de antigos aliados no Congresso. Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entrou em nova rota de colisão com Temer e com seu colega Eunício Oliveira (MDB-CE), que comanda o Senado. A briga atravessou a Praça dos Três Poderes e provocou impasse.

Dias após desistir de disputar novo mandato e anunciar a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles pelo MDB, Temer sofre as consequências do fim de um governo impopular Além de enfrentar o racha no MDB, ele também perdeu apoio na Câmara e no Senado.

Em votação simbólica, Maia conseguiu aprovar na Câmara, na noite de anteontem, um projeto que acaba com a desoneração da folha de pagamento para 28 setores da economia, mas embutiu ali a proposta de zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel até o fim do ano.

Foi um gesto calculado para ganhar protagonismo, mas passou longe dos acertos com o Senado e com o Planalto, que já havia pedido uma trégua aos caminhoneiros. De uma só tacada, porém, Maia contrariou Temer e irritou Eunício, que vai concorrer à reeleição e também tenta mostrar serviço. Os dois, no entanto, não deixaram dúvidas de que querem descolar suas imagens do desgaste do presidente.

Pouco antes da aprovação do projeto pela Câmara, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chamou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator da proposta, para uma conversa reservada no plenário. Estava apreensivo com o impacto da perda de receita provocada pela isenção do PIS/Cofins. Havia sido alertado antes por um telefonema do secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, para quem a renúncia seria de R$ 12 bilhões neste ano, e não de R$ 3,5 bilhões, como sustentava Maia. “Eu disse a ele: ‘Marun, a base do governo está votando contra o governo’”, contou Silva, que, apesar de ser da oposição, é aliado de Maia. Por volta de 15 horas, Temer também já havia telefonado para o presidente da Câmara. Queria saber o que seria votado. “Vou avaliar, presidente”, respondeu Maia.

“Temos apoio de 80% da população. Se querem pôr fogo nesse país estão conseguindo”, afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes. Nos bastidores, Eunício culpou Maia pela crise. O cearense, inclusive, deixou a reunião com os caminhoneiros para voltar ao seu estado, onde tinha um encontro marcado com o governador. A saída repentina causou mal-estar e o parlamentar teve de retornar a Brasília. (Agência Estado)