Os desafios de Dunga Com uma geração que não é brilhante e a Seleção em crise, novo técnico precisa mostrar serviço rápido, pois calendário está apertado

João de Andrade Neto e
Pedro Galindo
esporte.pe@dabr.com.br

Publicação: 23/07/2014 03:00

Novo treinador da Seleção Brasileira chega com a missão principal de preparar a equipe para o Mundial de 2018, na Rússia (VANDERLEI ALMEIDA/AFP)
Novo treinador da Seleção Brasileira chega com a missão principal de preparar a equipe para o Mundial de 2018, na Rússia
Exatos 1.479 dias após ter sido demitido pelo ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, o técnico Dunga está oficialmente de volta ao comando da Seleção Brasileira. Porém, se dessa vez o capitão do tetra volta quatro anos mais rodado para a função, o desafio atual se mostra ainda mais espinhoso do que quando foi anunciado pela primeira vez, em 2006, quando não possuía nenhuma experiência como treinador. Afinal, Dunga terá a missão de resgatar a autoestima e iniciar um projeto de reformulação visando a Copa da Rússia, em 2018, tendo uma seleção devastada após os 7 a 1 impostos pela Alemanha e uma geração longe de ser a melhor já formada pelo futebol nacional. Tudo isso, com três competições oficiais pela frente nos próximos dois anos.

Agenda cheia que já começa este ano, com quatro amistosos, três deles contra rivais sul-americanos. O primeiro, que marca a reestreia do treinador à frente da Seleção, será a reedição das quartas de final do último Mundial, contra a Colômbia, em Miami, em 5 de setembro. Quatro dias depois, em Nova Jersei, o Brasil encara o Equador. Em outubro, terá peça frente a Argentina, em Pequim, valendo taça. O Superclássico das Américas. E em novembro, será vez de encarar a Turquia, em amistoso, em Istambul.

Caso se segure até lá, Dunga terá o seu primeiro teste oficial na Copa América do Chile, em junho de 2015. No mês seguinte, a Fifa realizará o sorteio das eliminatórias da Copa da Rússia. Para inchar ainda mais o ciclo até o Mundial de 2018, será realizada em 2016, nos Estados Unidos, uma edição especial da Copa América para comemorar o centenário do torneio. A competição juntará seleções da Conmebol e da Concacaf.

Ontem, em sua primeira entrevista coletiva após o retorno, Dunga demonstrou saber bem os desafios que terá pela frente. “A minha primeira passagem foi pedida para resgatar o valor da Seleção, a camisa e obter resultados. A segunda passagem é preparar a Seleção para a Copa de 2018. No caminho, nós vamos ter uma Copa América e vamos encontrar seleções em ótima fase. Todas as seleções melhoraram muito”, reconheceu.

Vale lembrar que quando assumiu em 2006, Dunga conseguiu completar o ciclo até o Mundial da África do Sul, em 2010. Antes deles, Parreira, para a Copa de 2006, e Zagallo, antes da edição de 1998, também conseguiram.

O que ele terá pela frente

Em 2014

5 de setembro
 Brasil    x    Colômbia
(Miami – EUA)

9 de setembro
 Brasil    x    Equador
(Nova Jersey – EUA)

11 de outubro
 Brasil    x    Argentina
(Pequim – China)
*Superclássico das Américas

12 de novembro
 Brasil    x    Turquia
(Istambul – Turquia)

Técnico diz não sentir rejeição ao seu nome (VANDERLEI ALMEIDA/AFP)
Técnico diz não sentir rejeição ao seu nome
Em 2015


11 de junho a 4 de julho
 Copa América do Chile

Julho
 Sorteio das eliminatórias

Em 2016

3 a 26 de junho
 Copa América dos EUA

3 a 19 de agosto
 Jogos Olímpicos do Rio

O que Dunga disse

Volta à seleção
Chegar à Seleção é fantástico. E retornar é quase impossível. Mas na vida não tem nada impossível. Na vida, se você fizer o seu trabalho, as pessoas vão conhecer num momento ou outro. Vamos mostrar ao torcedor que queremos o melhor. Não vou vender um sonho, vou vender uma realidade. E a realidade precisa de trabalho. Já fomos os melhores e temos que resgatar essa capacidade. Temos talento para isso, mas não podemos deixar de ter a humildade de reconhecer que outras seleções fizeram um trabalho bom.

Rejeição
Não sinto essa tamanha rejeição que estão falando por onde eu passo. Mas cabe a nós mudarmos a opinião das pessoas. As pesquisas estão aí para serem derrubadas. Minha meta é mudar a maneira das pessoas pensarem a meu respeito. Nelson Mandela tinha tudo contra e conseguiu mudar a forma das pessoas de pensar com paciência. Espero que eu possa ter 1% da paciência dele. Eu não penso em mim, penso na Seleção Brasileira.

Relação com a imprensa
Não tive problema com a Globo, com A, B ou C. Tive, sim, atrito com várias pessoas. Combinado não é caro. As coisas precisam ser cumpridas. Talvez eu tenha levado muito na ponta da faca. Mas cumpri o combinado e não cumpriram comigo. Não vou mudar minha essência, que é de comprometimento, lealdade e transparência. As coisas precisam ser feitas, mas tudo conforme o planejado. Colocar no papel o espaço de cada um. Ninguém vai cercear o trabalho da imprensa, mas todos precisam entender que o objetivo maior é a Seleção. Todos precisam entender onde vai o direito e onde começa o direito dos demais. Se tiver essa compreensão de todos, vai dar certo. Mas preciso aprimorar meu relacionamento com a imprensa, o que é normal. Esse é meu mea culpa

Estilo de jogo
O que é futebol-arte? O goleiro fazer uma defesa é arte. O zagueiro interceptar uma bola também é. O futebol muda a cada instante, a cada dia. Todos falam em futebol ofensivo e pensam que é colocar quatro ou cinco atacantes. Mas as equipes marcam cinco, dez metros atrás da linha do meio de campo. O importante é chegar com quatro, cinco jogadores à frente. Tem que ter movimentações. Aquela história de que o craque não precisa participar do jogo cai por terra. Antigamente, você não via o goleiro participando tanto do jogo. Mas em 2014, nós vimos os arqueiros jogando quase como líberos.

Resgate da autoestima da seleção
A camisa brasileira é respeitada. É verdade que eles nos respeitam, mas eles querem ganhar de nós de qualquer forma. Temos que ser mais compactos, ter mais comprometimento. Temos que ter essa percepção e não achar que vamos ganhar a Copa antes de a Copa acontecer.