Famílias voltam às palafitas no Pina Pescadores que haviam sido levados para conjuntos habitacionais optaram por voltar às moradias precárias ao longo da maré

Rosália Vasconcelos
rosaliavasconcelos.pe@dabr.com.br

Publicação: 18/10/2014 03:00

Terreno vazio que aparece na foto de 2012 foi reocupado  de forma gradual  pelos barracos  (Alcione Ferreira/DP/D.A Press)
Terreno vazio que aparece na foto de 2012 foi reocupado de forma gradual pelos barracos

No bairro do Pina, quem passa distraído de carro não nota uma pacata comunidade que vive nas águas do Rio Capibaribe, entre a Ponte Paulo Guerra e a Ponte Agamenon Magalhães (conhecida como Ponte do Pina). Aquém da quase invisibilidade, o fato é que de 2012 para cá, as palafitas avançam maré adentro, bem como o número de barcos ancorados. De 16 famílias que ali viviam, hoje já somam mais de 60.

A maior parte dos novos moradores que chegam é de pescadores desapropriados de Brasília Teimosa - e transferidos para o Casarão do Cordeiro, na Torre - que optaram por abandonar o conforto da casa de alvenaria para estarem mais próximos do seu sustento. Quem ainda não voltou para o Pina é porque não teve oportunidade.

É o caso do pescador Anderson dos Santos Ferreira, 26 anos. Profissional “de carteira”, como refere-se a si mesmo, ele diz que sair de perto do mar foi um dos maiores sofrimentos de sua vida. “Eu nasci e me criei em Brasília Teimosa. Meu pai e meu avô, que já morreram, eram pescadores. Meus tios também eram, mas depois que vieram pra cá tornaram-se biscateiros de ferro velho. Era muito cansativo para eles irem sempre para o Pina”, relata.


Quando ele sai para pescar, tem que sair de casa às 4h. “Sempre sou o primeiro a subir no ônibus”. Passa até 15 dias no mar, de acordo com o apurado. Os dias em que não está no mar são os piores para ele. “Quem mora na beira da maré, nunca fica sem fazer nada, como a gente fica aqui. Se a gente não está no mar ou a pesca não é boa, a gente joga rede e sempre tem um apurado de camarão. Ninguém tira muito dinheiro, mas também nunca faltava”, lamenta Anderson.

Veterano
O pescador José Roberto da Silva Leal, 49, que mora no Porto do Bacardi há cinco anos, diz que em cima e embaixo das palafitas não falta oportunidade de trabalho. “Aqui eu pesco, faço manutenção de barco e ainda montei um bar e um açaí”, afirma Zé Roberto, que agora também está empenhado na construção de um grande barco de passeio.