DIARIO NOS BAIRROS »
Uma avenida que mudou o Recife
Há 95 anos, começava a história da Avenida Boa Viagem, que foi fundamental para incluir a Zona Sul na vida de todos os recifenses
Publicação: 13/07/2018 03:00
Antes de ser endereço de prédios luxuosos com o metro quadrado mais caro da cidade, e via por onde circulam 38 mil veículos por dia, a Avenida Boa Viagem era uma estrada sem estrutura frequentada por pescadores de uma colônia afastada do Centro da capital pernambucana. A história do corredor viário como conhecemos hoje teve início há 95 anos, quando a Avenida da Ligação, hoje Herculano Bandeira, começou a ser construída. O objetivo era ligar a cidade às praias do Pina e Boa Viagem, até então isoladas da vida urbana. O desafio urbanístico que o poder público encara é considerar essa história e levar em conta as características atuais da avenida para planejar o futuro dela.
A abertura da pista nova foi celebrada na edição de 21 de outubro de 1924 do Diario, em artigo intitulado A inauguração das avenidas Saturnino de Britto e Ligação no Pina: o passeio a Boa Viagem. Uma área da cidade estava sendo descoberta e chamava a atenção dos recifenses. “Tanto a Avenida Saturnino de Brito como a da Ligação apresentavam garrido e festivo aspecto, embandeiradas e repletas de povo”, descreve o texto. Após a inauguração, automóveis saíram em comboio, “tendo assim, oportunidade de contemplar os trabalhos da Avenida Beira Mar (hoje Avenida Boa Viagem), em construção”.
Em 1925, a inauguração de cinco quilômetros de trilhos, do trecho da antiga pracinha ao Pina, foi noticiada pelo jornal. Arthur Smith, superintendente da companhia ferroviária Tramways, revelou que a primeira viagem estava prevista para acontecer apenas em 1931, mas o governador Sérgio Loreto o pressionou para adiantar os serviços. Em discurso, Loreto disse que Pernambuco só teria a lucrar com os melhoramentos em Boa Viagem, já convertida numa estação balneária. Dizia-se satisfeito depois das críticas recebidas sobre suposto desperdício de dinheiro público em um local ermo e pouco frequentado. Na comemoração, o governador seguiu na sua limusine, acompanhado de mais de 300 veículos.
A avenida margeando o mar representou acesso à vila de Boa Viagem, que, de acordo com a professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Andréa Câmara, era considerada uma área rural da cidade. “Quando a avenida hoje chamada de Boa Viagem foi inaugurada, houve um momento de descoberta do mar e da modernidade. Nos primeiros dez anos, o desenvolvimento do bairro se deu no entorno da igrejinha (Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na praça). Depois, aconteceu a expansão com a construção de prédios modernistas”, explica.
A via tornou-se eixo estruturador do bairro e passou a apresentar, com o passar dos anos, uma multiplicidade de usos: residencial, comercial, de serviços e lazer. “Ao longo do tempo, assumiu ainda um papel de espaço simbólico de manifestações sociais, celebrações e reivindicações”, pontua a gerente de Preservação Cultural da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Celia Campos. “Assegurar a mobilidade, valorizar a imagem símbolo do bairro-cidade, consolidar e qualificar o uso do solo de forma equilibrada e integrar políticas urbanas a interesses públicos e privados são alguns dos desafios (do poder público em relação à avenida)”, completa.
Para o Plano de Mobilidade Urbana do Recife, em elaboração, essas questões têm sido consideradas. “Desenvolvemos uma série de estudos para embasar o desenvolvimento do plano. A Avenida Boa Viagem chama a atenção não só pela quantidade de carros que passam por ali, mas por ser um polo gerador de deslocamentos principalmente pelo acesso à praia. É uma das avenidas com o maior número de pedestres da cidade, com o maior trecho da rede cicloviária da cidade e com grande circulação de veículos de turismo”, pontua o diretor-executivo de Planejamento da Mobilidade, da Secretaria de Planejamento Urbano, Sideney Schreiner.
A primeira etapa do Plano de Mobilidade da cidade deve ser divulgado nas próximas semanas. A segunda e última, até o fim do ano. Para o curto prazo, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) informou que não há projetos ou intervenções programadas para a avenida.
História em fotos:
1 - Via é aberta e o Diario noticia
No dia 21 de outubro de 1924, o jornal noticiou a inauguração da Avenida da Ligação. Após a cerimônia de abertura, os automóveis saíram em excursão a Boa Viagem, tendo a “oportunidade de contemplar os trabalhos da Avenida Beira Mar, em construção, os quais já hão a ver a grandiosa obra que há de ser brevemente pronta”.
2 - Os bondes circulam na orla
Com o funcionamento oficial da Avenida Beira Mar, teve início a operação da linha de bonde da Tramways do Centro ao litoral. A inauguração de cinco quilômetros de asfalto e trilhos, do trecho da antiga pracinha ao Pina, fazia parte das comemorações do terceiro ano de gestão do governador Sérgio Loreto.
3 - Obras de pavimentação melhoram estrutura
A imagem, sem crédito de autor, mostra as obras de pavimentação e duplicação da Avenida Boa Viagem nos anos 1960. Ainda havia trilhos do bonde, mas ônibus circulavam no asfalto. A substituição em concreto do velho pavimento foi iniciada na gestão de Pelópidas da Silveira.
4 - Carros dominam a paisagem
Com o recapeamento da avenida e a substituição de trilhos por asfalto, os carros passaram a dominar a paisagem da Avenida Boa Viagem. Os bondes ficaram registrados em fotografias e em filmes, como Veneza Americana (1926), dos cineastas Ugo Falangola e J. Cambiere.
5 - Casa Navio marca uma época
Construída nos anos 1940 pelo empresário Adelmar da Costa Carvalho, a casa-navio era um ponto de referência em Boa Viagem, hospedando personalidades e atraindo turistas. O presidente Juscelino Kubitschek chegou a participar de um encontro na mansão. Foi demolida nos anos 1980.
Avenida Boa Viagem em números:
A abertura da pista nova foi celebrada na edição de 21 de outubro de 1924 do Diario, em artigo intitulado A inauguração das avenidas Saturnino de Britto e Ligação no Pina: o passeio a Boa Viagem. Uma área da cidade estava sendo descoberta e chamava a atenção dos recifenses. “Tanto a Avenida Saturnino de Brito como a da Ligação apresentavam garrido e festivo aspecto, embandeiradas e repletas de povo”, descreve o texto. Após a inauguração, automóveis saíram em comboio, “tendo assim, oportunidade de contemplar os trabalhos da Avenida Beira Mar (hoje Avenida Boa Viagem), em construção”.
Em 1925, a inauguração de cinco quilômetros de trilhos, do trecho da antiga pracinha ao Pina, foi noticiada pelo jornal. Arthur Smith, superintendente da companhia ferroviária Tramways, revelou que a primeira viagem estava prevista para acontecer apenas em 1931, mas o governador Sérgio Loreto o pressionou para adiantar os serviços. Em discurso, Loreto disse que Pernambuco só teria a lucrar com os melhoramentos em Boa Viagem, já convertida numa estação balneária. Dizia-se satisfeito depois das críticas recebidas sobre suposto desperdício de dinheiro público em um local ermo e pouco frequentado. Na comemoração, o governador seguiu na sua limusine, acompanhado de mais de 300 veículos.
A avenida margeando o mar representou acesso à vila de Boa Viagem, que, de acordo com a professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Andréa Câmara, era considerada uma área rural da cidade. “Quando a avenida hoje chamada de Boa Viagem foi inaugurada, houve um momento de descoberta do mar e da modernidade. Nos primeiros dez anos, o desenvolvimento do bairro se deu no entorno da igrejinha (Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na praça). Depois, aconteceu a expansão com a construção de prédios modernistas”, explica.
A via tornou-se eixo estruturador do bairro e passou a apresentar, com o passar dos anos, uma multiplicidade de usos: residencial, comercial, de serviços e lazer. “Ao longo do tempo, assumiu ainda um papel de espaço simbólico de manifestações sociais, celebrações e reivindicações”, pontua a gerente de Preservação Cultural da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Celia Campos. “Assegurar a mobilidade, valorizar a imagem símbolo do bairro-cidade, consolidar e qualificar o uso do solo de forma equilibrada e integrar políticas urbanas a interesses públicos e privados são alguns dos desafios (do poder público em relação à avenida)”, completa.
Para o Plano de Mobilidade Urbana do Recife, em elaboração, essas questões têm sido consideradas. “Desenvolvemos uma série de estudos para embasar o desenvolvimento do plano. A Avenida Boa Viagem chama a atenção não só pela quantidade de carros que passam por ali, mas por ser um polo gerador de deslocamentos principalmente pelo acesso à praia. É uma das avenidas com o maior número de pedestres da cidade, com o maior trecho da rede cicloviária da cidade e com grande circulação de veículos de turismo”, pontua o diretor-executivo de Planejamento da Mobilidade, da Secretaria de Planejamento Urbano, Sideney Schreiner.
A primeira etapa do Plano de Mobilidade da cidade deve ser divulgado nas próximas semanas. A segunda e última, até o fim do ano. Para o curto prazo, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) informou que não há projetos ou intervenções programadas para a avenida.
História em fotos:
1 - Via é aberta e o Diario noticia
No dia 21 de outubro de 1924, o jornal noticiou a inauguração da Avenida da Ligação. Após a cerimônia de abertura, os automóveis saíram em excursão a Boa Viagem, tendo a “oportunidade de contemplar os trabalhos da Avenida Beira Mar, em construção, os quais já hão a ver a grandiosa obra que há de ser brevemente pronta”.
2 - Os bondes circulam na orla
Com o funcionamento oficial da Avenida Beira Mar, teve início a operação da linha de bonde da Tramways do Centro ao litoral. A inauguração de cinco quilômetros de asfalto e trilhos, do trecho da antiga pracinha ao Pina, fazia parte das comemorações do terceiro ano de gestão do governador Sérgio Loreto.
3 - Obras de pavimentação melhoram estrutura
A imagem, sem crédito de autor, mostra as obras de pavimentação e duplicação da Avenida Boa Viagem nos anos 1960. Ainda havia trilhos do bonde, mas ônibus circulavam no asfalto. A substituição em concreto do velho pavimento foi iniciada na gestão de Pelópidas da Silveira.
4 - Carros dominam a paisagem
Com o recapeamento da avenida e a substituição de trilhos por asfalto, os carros passaram a dominar a paisagem da Avenida Boa Viagem. Os bondes ficaram registrados em fotografias e em filmes, como Veneza Americana (1926), dos cineastas Ugo Falangola e J. Cambiere.
5 - Casa Navio marca uma época
Construída nos anos 1940 pelo empresário Adelmar da Costa Carvalho, a casa-navio era um ponto de referência em Boa Viagem, hospedando personalidades e atraindo turistas. O presidente Juscelino Kubitschek chegou a participar de um encontro na mansão. Foi demolida nos anos 1980.
Avenida Boa Viagem em números:
- 7,4 km de extensão da pista para veículos motorizados
- 7,8 km de ciclovia bidirecional
- 38 mil veículos por dia
- 26 semáforos
- 31 faixas de pedestre
- Pina
- Segundo Jardim
- Professor José Brandão
- Padre Carapuceiro
- Verdes Mares
- Parque Dona Lindu
- Polo Pina - velocidade, avanço de semáforo, parada sobre faixa de pedestres e conversão proibida
- Segundo Jardim - fiscalização de velocidade
- Terceiro Jardim - fiscalização de velocidade
- Parque Dona Lindu - videomonitoramento que fiscaliza, principalmente, o estacionamento irregular
Saiba mais...
De volta às ruas da Zona Sul do Recife