Centro de saúde mais próximo a 30 minutos

Publicação: 18/08/2018 03:00

O mato começa a tomar conta da calçada da casa de número 17 da Rua B. No portão cinza corroído pela ferrugem, Eunice espera sorridente. No interior, uma estante de madeira mogno com memórias de família, ao lado de um rack da mesma cor, um sofá de couro laranja coberto por almofadas florais de plástico e um aparador, onde reside uma Bíblia católica aberta em Cânticos 4, enchem a sala.

Da porta para dentro, as 25 casas representam uma soma de conquistas particulares. Tirando as primeiras portas e janelas adicionadas ao longo do tempo pela própria Cohab, tudo o que se vê hoje é resultado do esforço desses profissionais. Da porta para fora, no entanto, a Vila é a materialização dos processos de exclusão social brasileiros.

Com exceção da rua que ganhou o nome de Eunice Antônio do Monte, uma homenagem feita há alguns anos pelo Conselho de Moradores do bairro à mulher que liderou a conquista da identidade daquela comunidade, as ruas da cidade continuam sem nome. Eles são A, B e C. O asfalto também não chegou. O centro de saúde mais próximo fica a 30 minutos a pé. Escola primária, a 50 minutos. O único espaço de lazer para as crianças é uma “praça” sem árvores, brinquedos ou bancos.

A maior ausência, para Eunice, é a do transporte público. Apenas um ônibus chega à vila. Os outros deixam os moradores na BR. Sem um semáforo, passarela ou faixa de pedestres, os vizinhos precisam de um cálculo rápido de tempo e velocidade para sobreviver ao risco de atravessar uma rodovia federal. Uma das 24 domésticas se foi por causa disso. Outras quatro, pela vida.