A atleta e a executiva
Superesportes acompanhou um dia da nova rotina da pentatleta Yane Marques, que corre para dividir os treinos com as atribuições na Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife
texto: Alexandre Barbosa
alexandre.barbosa@dabr.com.br
fotos: peu ricardo
Publicação: 15/04/2017 03:00
O Recife estava escuro. Era madrugada da segunda-feira, 4h40. A cidade ainda dormia, preparando-se para mais um início de semana, após o descanso dominical. Numa rua lateral ao Parque da Jaqueira, o carro se aproxima e estaciona em frente à academia. Yane Marque aparece e com o já conhecido sorriso no rosto e brinca com a reportagem que a aguardava. “Dispostos vocês, hein?!”. Os poucos minutos de conversa, ali mesmo, mostram uma Yane totalmente relaxada e tranquila, diferente da atleta que encontramos várias vezes, sob forte pressão, antes, durante e depois da Olimpíada Rio-2016. O que não mudou foi o foco.
Sem perder muito tempo, ela dá início à primeira atividade do dia. O relógio marcava 5h01 quando ela partiu para a sua corrida. Responsável por ensinar ao Brasil o que é o pentatlo moderno, um esporte completamente desconhecido do público antes dos seus resultados, Yane vive uma nova fase em 2017, voltada para atividades fora da sua modalidade. No início do ano, ela assumiu o cargo de secretária executiva de Esportes do Recife. É a responsável, hoje, pelas políticas esportivas do município. Dá expediente diário na Prefeitura do Recife durante a semana, mas a rotina tem se estendido aos sábados e domingos.
No dia anterior ao encontro, por exemplo, Yane havia acompanhado os eventos do fim de semana que fizeram parte da Semana Esportiva Recife. Foi o primeiro grande evento que conseguiu organizar na sua gestão. Ficou satisfeita com o resultado. “Essa é uma fase em que estou aprendendo muito. A gente apresentou uma série de esportes para muita gente e foi bem gratificante. Teve criança perguntando: Tia, quando é que vai ter de novo?’ Vou fazer o melhor que puder. Enquanto estiver aqui, vou me entregar a essa trabalho”, afirma Yane. “Não é fácil. As dificuldades existem, mas eu nunca fui de ficar reclamando de estrutura quando era atleta. Estou gostando. Sinto que dá pra fazer muita coisa legal.”
DE VOLTA AO PENTATLO…
O afastamento do alto rendimento foi algo planejado por Yane, levando em conta que o ano pós-olímpico é sempre menos movimentado. A última competição da pentatleta foi o Mundial Militar, em setembro do ano passado, quando ela conquistou a medalha de bronze. Foi também sua despedida do compromisso com as forças armadas. Sargento atleta desde 2009, Yane “tirou o seu tempo” em março deste ano, quando se completou o período máximo de serviço para a sua função. Na nova rotina, treinos mais leves e curtos, porém, bastante intensos, já que Yane precisa otimizar o tempo.
Os exercícios variam conforme o dia, mas as cinco modalidades do pentatlo seguem sendo trabalhadas. “Estou numa fase mais amadora, de treinar por amor mesmo. É ano pós-olímpico, então tem muita menina tirando para engravidar, tem gente parando…. Eu precisava disso, um ano de manutenção”, explica Yane.
AMADORA?
Yane diz que o ritmo atual é de uma amadora, mas o treino é puxado. Após a corrida de cerca de 6km - em 32 minutos -, vai para a academia. Mais 30 minutos de exercícios. O foco é a tonificação e a resistência muscular. Cumpre todo o cronograma praticamente sem intervalos para descanso. Mais uma etapa cumprida.
Às 6h, quando o Recife começava a acordar, Yane voltou para casa. O trânsito ainda foi tranquilo no caminho entre a Jaqueira e Campo Grande. Quinze minutos depois, ela estacionou. Ainda havia uma etapa do treino. Na agenda da atleta, o dia era de praticar a esgrima. Na base do improviso total.
Yane não esconde que o treino de esgrima é muito mais para não esquecer os movimentos. No terraço de casa, uma bola de tênis pendurada num cordão vira o “adversário”. Para quem está de fora, parece uma atividade banal, mas ela mostra que não é fácil acertar o alvo. Bem ao seu jeito, demonstra passando o sabre ao fotógrafo Peu Ricardo, responsável pelas imagens da reportagem. Sem jeito, ele comprova que a coisa não é tão simples assim.
AGENDA
Se segunda é o dia da esgrima, as quartas e quintas são da natação, no Clube Português. O hipismo também tem o seu lugar, três vezes por semana. Vem recebendo mais atenção da atleta, que planeja disputar o Norte/Nordeste da modalidade, no fim do mês.
Aposentadoria?
A nova rotina ameaça, sim, a continuidade de Yane no esporte de alto nível, ainda mais diante da satisfação dela com o trabalho. A entrada em mais um ciclo olímpico é um pensamento que existe, mas ela não nega a dúvida. “Pensar eu penso, mas não sei se encaro”, deixa no ar. “É preciso treinar muito, e só treinar. Não dá para ficar mais ou menos.” Perder Yane será um baque para o pentatlo moderno do Brasil. Nos anos em que competiu, nenhum outro atleta, seja no masculino ou feminino, chegou perto dos seus resultados. Ela admite um vácuo entre as gerações - assim como ela, uma série de outros pentatletas também já estão em reta final de carreira -, mas não acredita que o esporte vá retroceder a ponto de voltar à estaca zero. “Não acho que vai acabar porque Yane vai parar. Não posso ser responsável por não termos uma renovação. Mas, quando eu comecei, não sabíamos nada mesmo. Hoje, o esporte já tem uma visibilidade. É uma modalidade difícil. Temos muito talento no Brasil, o que precisa é de oportunidade”, afirma. No segundo semestre, Yane voltará a competir. Aguarda a definição das datas e locais do Brasileiro e do Sul-Americano. Talvez as competições até ajudem-na a amadurecer a sua decisão, seja de parar ou seguir. “Não tem como negar que estou numa transição. Mas nem planejava ir para essas competições...”, conta. Pendurar o sabre, o maiô, as botinas, o tênis e a pistola. O que Yane pode dizer sobre a palavra “aposentadoria” nesse momento? “Não estou lidando muito bem com ela”. O pentatlo brasileiro também não.
Sem perder muito tempo, ela dá início à primeira atividade do dia. O relógio marcava 5h01 quando ela partiu para a sua corrida. Responsável por ensinar ao Brasil o que é o pentatlo moderno, um esporte completamente desconhecido do público antes dos seus resultados, Yane vive uma nova fase em 2017, voltada para atividades fora da sua modalidade. No início do ano, ela assumiu o cargo de secretária executiva de Esportes do Recife. É a responsável, hoje, pelas políticas esportivas do município. Dá expediente diário na Prefeitura do Recife durante a semana, mas a rotina tem se estendido aos sábados e domingos.
No dia anterior ao encontro, por exemplo, Yane havia acompanhado os eventos do fim de semana que fizeram parte da Semana Esportiva Recife. Foi o primeiro grande evento que conseguiu organizar na sua gestão. Ficou satisfeita com o resultado. “Essa é uma fase em que estou aprendendo muito. A gente apresentou uma série de esportes para muita gente e foi bem gratificante. Teve criança perguntando: Tia, quando é que vai ter de novo?’ Vou fazer o melhor que puder. Enquanto estiver aqui, vou me entregar a essa trabalho”, afirma Yane. “Não é fácil. As dificuldades existem, mas eu nunca fui de ficar reclamando de estrutura quando era atleta. Estou gostando. Sinto que dá pra fazer muita coisa legal.”
DE VOLTA AO PENTATLO…
O afastamento do alto rendimento foi algo planejado por Yane, levando em conta que o ano pós-olímpico é sempre menos movimentado. A última competição da pentatleta foi o Mundial Militar, em setembro do ano passado, quando ela conquistou a medalha de bronze. Foi também sua despedida do compromisso com as forças armadas. Sargento atleta desde 2009, Yane “tirou o seu tempo” em março deste ano, quando se completou o período máximo de serviço para a sua função. Na nova rotina, treinos mais leves e curtos, porém, bastante intensos, já que Yane precisa otimizar o tempo.
Os exercícios variam conforme o dia, mas as cinco modalidades do pentatlo seguem sendo trabalhadas. “Estou numa fase mais amadora, de treinar por amor mesmo. É ano pós-olímpico, então tem muita menina tirando para engravidar, tem gente parando…. Eu precisava disso, um ano de manutenção”, explica Yane.
AMADORA?
Yane diz que o ritmo atual é de uma amadora, mas o treino é puxado. Após a corrida de cerca de 6km - em 32 minutos -, vai para a academia. Mais 30 minutos de exercícios. O foco é a tonificação e a resistência muscular. Cumpre todo o cronograma praticamente sem intervalos para descanso. Mais uma etapa cumprida.
Às 6h, quando o Recife começava a acordar, Yane voltou para casa. O trânsito ainda foi tranquilo no caminho entre a Jaqueira e Campo Grande. Quinze minutos depois, ela estacionou. Ainda havia uma etapa do treino. Na agenda da atleta, o dia era de praticar a esgrima. Na base do improviso total.
Yane não esconde que o treino de esgrima é muito mais para não esquecer os movimentos. No terraço de casa, uma bola de tênis pendurada num cordão vira o “adversário”. Para quem está de fora, parece uma atividade banal, mas ela mostra que não é fácil acertar o alvo. Bem ao seu jeito, demonstra passando o sabre ao fotógrafo Peu Ricardo, responsável pelas imagens da reportagem. Sem jeito, ele comprova que a coisa não é tão simples assim.
AGENDA
Se segunda é o dia da esgrima, as quartas e quintas são da natação, no Clube Português. O hipismo também tem o seu lugar, três vezes por semana. Vem recebendo mais atenção da atleta, que planeja disputar o Norte/Nordeste da modalidade, no fim do mês.
Aposentadoria?
A nova rotina ameaça, sim, a continuidade de Yane no esporte de alto nível, ainda mais diante da satisfação dela com o trabalho. A entrada em mais um ciclo olímpico é um pensamento que existe, mas ela não nega a dúvida. “Pensar eu penso, mas não sei se encaro”, deixa no ar. “É preciso treinar muito, e só treinar. Não dá para ficar mais ou menos.” Perder Yane será um baque para o pentatlo moderno do Brasil. Nos anos em que competiu, nenhum outro atleta, seja no masculino ou feminino, chegou perto dos seus resultados. Ela admite um vácuo entre as gerações - assim como ela, uma série de outros pentatletas também já estão em reta final de carreira -, mas não acredita que o esporte vá retroceder a ponto de voltar à estaca zero. “Não acho que vai acabar porque Yane vai parar. Não posso ser responsável por não termos uma renovação. Mas, quando eu comecei, não sabíamos nada mesmo. Hoje, o esporte já tem uma visibilidade. É uma modalidade difícil. Temos muito talento no Brasil, o que precisa é de oportunidade”, afirma. No segundo semestre, Yane voltará a competir. Aguarda a definição das datas e locais do Brasileiro e do Sul-Americano. Talvez as competições até ajudem-na a amadurecer a sua decisão, seja de parar ou seguir. “Não tem como negar que estou numa transição. Mas nem planejava ir para essas competições...”, conta. Pendurar o sabre, o maiô, as botinas, o tênis e a pistola. O que Yane pode dizer sobre a palavra “aposentadoria” nesse momento? “Não estou lidando muito bem com ela”. O pentatlo brasileiro também não.