Os números do milagre da concepção Casais com dificuldade de engravidar precisam encarar calculadoras não apenas para estimar investimentos, mas para compreender chances de conceber

Lorena Barros
lorena.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/01/2017 03:00

Sonhos que se transformam em realidade: Até o nascimento da primeira filha, Mariana, Taciana Lira precisou passar por uma cirurgia, tratamentos hormonais, inseminação artificial e duas fertilizações in vitro. Depois veio Valentina, de concepção natural (Arquivo pessoal)
Sonhos que se transformam em realidade: Até o nascimento da primeira filha, Mariana, Taciana Lira precisou passar por uma cirurgia, tratamentos hormonais, inseminação artificial e duas fertilizações in vitro. Depois veio Valentina, de concepção natural

Cinco por cento. Esta era a chance da bacharela em direito Taciana Lira engravidar. Aos 31 anos, havia acabado de detectar falência ovariana precoce. Antes disso, havia passado por uma cirurgia, tratamentos hormonais, inseminação artificial e duas fertilizações in vitro. Partiu para a última tentativa: mais uma fertilização. Naquele momento, só os 5%, um dos tantos números e probabilidades encaradas em seis anos tentando engravidar, traziam esperança. “Era melhor do que 0%”, pensava. Meses depois, trouxe a filha Mariana ao mundo. A emoção logo virou surpresa. Mariana ainda era um bebê de colo quando Taciana descobriu uma nova gravidez, dessa vez, sem nenhum tratamento. Até a gestação inesperada de Valentina, “o milagre”, Taciana tinha confiado aos médicos e laboratórios o sonho de ser mãe. Nunca esteve sozinha. Só em 2015, 35,6 mil ciclos de fertilização in vitro foram realizados no Brasil, 946 deles em Pernambuco. Com taxas de sucesso variadas, os métodos de reprodução assistida são banhados de incertezas, desafios éticos e até mesmo casos surpreendentes para a medicina.

Entre as técnicas de reprodução assistida mais comuns estão a inseminação artificial, quando o espermatozoide é inserido no útero, facilitando a fecundação, e a fertilização in vitro, quando a fecundação do embrião é realizada em laboratório e, alguns dias depois, ele é inserido na mulher. Nesta última, os embriões são analisados e aqueles que melhor se desenvolvem são os “escolhidos” para a viagem até o útero. O sucesso de cada procedimento depende de inúmeros fatores, entre eles a idade da paciente, qualidade dos espermatozoides e a condição do útero. O valor do procedimento, mais efetivo em casos complexos, pode chegar a R$ 30 mil.

Dado o custo elevado e a própria dificuldade em conceber, na maioria das vezes mais de um embrião é inserido no útero, o que possibilita o nascimento de mais de uma criança numa mesma gestação. “No Brasil, a legislação só permite que até dois embriões sejam colocados em mulheres abaixo de 35 anos. Esse número sobe para três entre 35 e 40 anos e quatro ou mais, acima dos 40”, explica a especialista em reprodução humana e diretora médica da clínica Geare, Madalena Caldas. Dessa forma, em até uma em cada cinco mulheres, a partir dos 35 anos, que recebem três embriões fertilizados podem gerar gêmeos. No caso de trigêmeos, essa chance pode chegar a uma em cada dez inseminações.

Em alguns casos, como o da primeira tentativa de Taciana, nem mesmo um folículo embrionário é encontrado. “Após seis anos tentando, eu já estava emocionalmente abalada, estávamos perto de jogar a toalha”, lembra a bacharela. A concepção “normal” da segunda filha de Taciana, encarada como um milagre por alguns, pode ser justificada por uma série de fatores para o PhD em reprodução humana e professor da Universidade de Pernambuco Aurélio Molina. Ele acredita que mudanças hormonais, imunológicas ou mesmo emocionais podem contribuir. “Existem muitos casos no qual a gravidez modifica completamente o corpo da mulher. Mesmo que a criança não nasça de forma normal, você terá alterações profundas no sistema imunológico”.

As chances de conceber em números
  • 2 é o número máximo de embriões permitidos na fertilização de uma mulher até 35 anos
  • 3 é o número máximo de embriões permitidos na fertilização de uma mulher  de 35 a 40 anos
  • 4 ou mais embriões podem ser implantados em uma mulher acima dos 40 anos de idade
  • 15 a 20% de chances de uma mulher com três embriões inseridos gerar gêmeos
  • 5 a 10% de chances de uma mulher com três embriões inseridos gerar trigêmeos
  • 2 a 5% é a chance de um embrião se dividir em dois
  • 0,1 a 0,5% de chances de quádruplos
  • 0,002% a 0,025% de chances de quíntuplos (1 a cada 500 mulheres que colocam no mínimo três embriões em uma fertilização in vitro)
  • 15% é a chance de sucesso em caso de inseminação artificial
  • 50% é a chance de sucesso em casos de fertilização in vitro
  • 3 a 5 mil reais é o valor médio de uma inseminação artificial
  • 15 a 30 mil reais é o valor médio de uma fertilização in vitro
Fonte: Dra Madalena Caldas