Tropa de elite osso duro de roer Dos 54 inscritos no treinamento do Bope pernambucano, 33 já pediram para sair. Diario acompanhou a rotina puxada de preparação da tropa

texto: Wagner Oliveira | wagner.oliveira@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/08/2017 03:00

Eles dormem poucas horas, enfrentam fome, sede, frio e calor e são submetidos a exercícios físicos que desafiam os limites dos seus corpos. Essa é a rotina dos homens que escolhem entrar para a tropa de elite da Polícia Militar de Pernambuco. Criado no mês de junho, em substituição à Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe), o Batalhão de Operações Especiais (Bope) surgiu como alternativa apontada pelo governo do estado para reduzir a criminalidade. Somente nos sete primeiros meses deste ano, Pernambuco já acumula 3.323 assassinatos. Desse total, 447 aconteceram apenas no mês de julho. Mas nem todo militar que entra para o Curso de Operações Especiais consegue chegar até o fim. Assim como a história retratada no filme Tropa de elite, os militares precisam ter garra para se tornarem um caveira, como são chamados os PMs que concluem a formação.

Depois de sete anos sem realizar esta capacitação em Pernambucano, a Polícia Militar iniciou, em 19 de junho, o treinamento de 54 policiais no Curso de Operações Especiais, dos quais sairão militares para o Bope. O Diario acompanhou alguns dias de atividades e traz um retrato do cotidiano do grupo. Passados dois meses do treinamento, só 21 dos 54 iniciantes seguem na preparação. Trinta e três pediram para sair. O prestígio desse tipo de batalhão é tanto que policiais militares de outros estados também se inscrevem no curso. Atualmente, dez alunos “estrangeiros” seguem realizando as atividades. No Bope, os militares recebem uma gratificação sobre o salário e carregam o status de serem uma força especializada para situações especiais.

Em Pernambuco, os PMs do Bope (atualmente composto por ex-membros da Cioe) são acionados, geralmente, para ocorrências que envolvam resgate de reféns, investidas com explosivos ou assaltos a bancos. No entanto, o efetivo de 120 homens também é acionado para realizar revistas em estabelecimentos prisionais, escoltas de pessoas importantes ou até mesmo de presos de alta periculosidade.

Apesar da aposta do governo do estado a respeito do Bope, o especialista pernambucano em segurança pública e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Campina Grande (PB) José Maria Nóbrega Júnior acredita que essa não seja a melhor solução para o problema. “Pernambuco está num ritmo de crescimento exacerbado dos homicídios. A situação está fora de controle. É preciso mais investimentos em inteligência, investigação, melhores condições de trabalho nas perícias realizadas em locais de crime. Não vai ser meia dúzia de policiais empolgados que reverterá essa situação da violência”, declarou.