PRIMEIROS PASSOS »
Nova chance para recomeçar
O acolhimento dos pequenos imigrantes não é uma realidade nova para o Brasil, a exemplo dos japoneses, italianos e sírios
Publicação: 01/06/2019 03:00
Mais um dia chegava ao fim na casa de Rosana Matute, 35 anos, sem a família ter completado as três refeições. Eram 22 horas quando Bluckjhanny, na época com 4 anos, pediu comida para a mãe. Sem ter o que oferecer à criança, Rosana cortou uma manga em pedaços e deu a fruta, ainda verde, para a filha. Todas as vezes em que saía para pedir dinheiro nas ruas da cidade de Boa Vista, em Roraima, a ex-funcionária do setor hoteleiro venezuelano lembrava dessa cena. Ela só queria juntar dinheiro e mandar para alimentar a filha. Queria, mais ainda, somar o suficiente para trazer Bluckjhanny ao Brasil e, assim, voltar a sonhar com o futuro da menina.
O acolhimento dos pequenos imigrantes não é uma realidade nova para o Brasil, país que durante a própria história traz consigo processos representativos de imigração, como o da comunidade japonesa, da sírio-libanesa e da italiana. “Isso faz parte da nossa história, da nossa formação. Mas nos últimos cinco anos, esse processo foi mais acelerado em função da crise em um país vizinho nosso, que é a Venezuela. O colapso substancial do ‘madurismo’, a situação de insustentabilidade social, econômica e política, gera uma crise humanitária. É um perfil migratório, tal qual ocorreu com os haitianos em 2011, pautado na busca por melhores condições de vida”, explica o coordenador do curso de ciência política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Thales Castro.
Essa situação faz com que muitos venezuelanos cruzem a fronteira brasileira trazendo consigo toda a família, inclusive as crianças. Até 2017, eram 30 mil venezuelanos no Brasil, em situação migratória ou irregular. Parte deles entrando com pedidos de refúgio, segundo os dados mais atualizados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Em relação ao ano anterior, o número de pedidos de refúgio no país, de todas as nacionalidades, aumentou em 118%. Somente em 2017, havia 17,8 mil venezuelanos solicitando reconhecimento da condição de refugiado às autoridades brasileiras. Esse número representa 20% do total de solicitações em trâmite.
Chegando ao Brasil, as crianças passam a ser incluídas nos dispositivos legais de proteção a qualquer menino ou menina brasileira. “As crianças que vêm ao Brasil, de maneira legal ou não, estão protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outras legislações que protegem a dimensão social hipossuficiente dos pequenos. O Brasil também é signatário de compromissos internacionais de proteção da criança, como a Convenção da ONU para refugiados. É um país que tem o histórico de proteger as crianças nesse sentido”, ressalta Thales Castro.
Rosana não sabia disso, mas tinha plena convicção de que em território brasileiro a filha iria ter o básico que uma criança na primeira infância precisa para se desenvolver de forma saudável: alimentação, educação e afeto. “Quando pude, voltei para buscar a minha filha. Chorava quase todo dia, pensando nela. Agora, o que ela quer, pode comer. Está estudando. Não está passando fome”, diz ela, que enfrentou outra realidade ao chegar ao país. Reencontrou um antigo amor, nas ruas de Boa Vista, e decidiu engravidar de Gael Colón, hoje com 3 meses.
A família vive em Igarassu, onde estão outras 17 crianças em idade de zero a 6 anos. “A maioria dos venezuelanos chega com filhos. Cerca de 70% delas têm menos de 5 anos. Um deles chegou abaixo do peso para a idade e encaminhamos para acompanhamento no serviço de saúde local”, explicou a assistente social do Aldeias Infantis Ivanilce Chaves. “Nosso grande desafio é despertar a sensibilidade do fluxo de atendimento das políticas públicas e de acolhimento para essas crianças”, acrescentou o coordenador do projeto humanitário Brasil Sem Fronteiras Refugiados Venezuelanos, Carlos Santos.
O acolhimento dos pequenos imigrantes não é uma realidade nova para o Brasil, país que durante a própria história traz consigo processos representativos de imigração, como o da comunidade japonesa, da sírio-libanesa e da italiana. “Isso faz parte da nossa história, da nossa formação. Mas nos últimos cinco anos, esse processo foi mais acelerado em função da crise em um país vizinho nosso, que é a Venezuela. O colapso substancial do ‘madurismo’, a situação de insustentabilidade social, econômica e política, gera uma crise humanitária. É um perfil migratório, tal qual ocorreu com os haitianos em 2011, pautado na busca por melhores condições de vida”, explica o coordenador do curso de ciência política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Thales Castro.
Essa situação faz com que muitos venezuelanos cruzem a fronteira brasileira trazendo consigo toda a família, inclusive as crianças. Até 2017, eram 30 mil venezuelanos no Brasil, em situação migratória ou irregular. Parte deles entrando com pedidos de refúgio, segundo os dados mais atualizados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Em relação ao ano anterior, o número de pedidos de refúgio no país, de todas as nacionalidades, aumentou em 118%. Somente em 2017, havia 17,8 mil venezuelanos solicitando reconhecimento da condição de refugiado às autoridades brasileiras. Esse número representa 20% do total de solicitações em trâmite.
Chegando ao Brasil, as crianças passam a ser incluídas nos dispositivos legais de proteção a qualquer menino ou menina brasileira. “As crianças que vêm ao Brasil, de maneira legal ou não, estão protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outras legislações que protegem a dimensão social hipossuficiente dos pequenos. O Brasil também é signatário de compromissos internacionais de proteção da criança, como a Convenção da ONU para refugiados. É um país que tem o histórico de proteger as crianças nesse sentido”, ressalta Thales Castro.
Rosana não sabia disso, mas tinha plena convicção de que em território brasileiro a filha iria ter o básico que uma criança na primeira infância precisa para se desenvolver de forma saudável: alimentação, educação e afeto. “Quando pude, voltei para buscar a minha filha. Chorava quase todo dia, pensando nela. Agora, o que ela quer, pode comer. Está estudando. Não está passando fome”, diz ela, que enfrentou outra realidade ao chegar ao país. Reencontrou um antigo amor, nas ruas de Boa Vista, e decidiu engravidar de Gael Colón, hoje com 3 meses.
A família vive em Igarassu, onde estão outras 17 crianças em idade de zero a 6 anos. “A maioria dos venezuelanos chega com filhos. Cerca de 70% delas têm menos de 5 anos. Um deles chegou abaixo do peso para a idade e encaminhamos para acompanhamento no serviço de saúde local”, explicou a assistente social do Aldeias Infantis Ivanilce Chaves. “Nosso grande desafio é despertar a sensibilidade do fluxo de atendimento das políticas públicas e de acolhimento para essas crianças”, acrescentou o coordenador do projeto humanitário Brasil Sem Fronteiras Refugiados Venezuelanos, Carlos Santos.