Guerras de gel tomando as comunidades O que é visto como brincadeira está aumentando os casos de lesões oculares na RMR. Grupos usam WhatAapp para marcar os encontros

Mareu Araújo

Publicação: 09/12/2024 03:00

Vitor, de 16 anos, é o ‘cabeça’ das guerras de bolinhas de gel em sua comunidade. É com ele que outros líderes do Grande Recife combinam de se encontrar pelas redes sociais, tarde da noite, em quadras, praças e na rua, para travar uma batalha entre bairros. Quando ele conversou com a equipe do Diario de Pernambuco, às 18h, de uma quinta-feira, a próxima brincadeira já tinha horário, local e participantes confirmados.

As guerras, que têm tomado as comunidades, preocupam autoridades e estão relacionadas ao aumento de lesões oculares no Grande Recife. Quem participa, no entanto, não enxerga a prática como algo ruim. “É por diversão, não queremos fazer mal a ninguém. Temos que seguir regras em nosso grupo”, afirmou Vitor.

Além de Vitor, o Diario de Pernambuco conversou com outra moradora da Região Metropolitana do Recife que também participa desses encontros. Para proteger a identidade deles serão usados nomes fictícios.

Tanto Anna, de 19 anos, quanto Vitor conheceram as armas de gel através do Tik Tok. Em uma rápida pesquisa por ‘arma de gel’ no aplicativo, a reportagem encontrou vídeos com dicas de como cuidar do aparelho, pessoas testando o nível da dor da bolinha e grupos grandes de jovens se reunindo para “guerrear”.

Vitor contou que costumam participar em torno de 60 a 70 pessoas, mas quando mais de dois bairros se reúnem pode chegar a 100 participantes. “Temos algumas regras. Se tiver briga vai todo mundo pra casa. Outra regra é que não pode tocar na arma do outro e pode usar óculos de proteção, tem gente ainda que vai de capacete”, disse. “Eu uso. Eu acho irresponsabilidade do pessoal que não usa”.

Dispostas em vitrines no centro do Recife, em feiras populares e em barracas, as armas de gel ou ‘gel blasters’ estão disponíveis em diversas cores e tamanhos, com preço variando entre R$ 90 e R$ 150. O kit acompanha um óculos de proteção, um saco com 5 mil bolinhas, um “silenciador” e o carregador.

Anna recebeu a equipe do Diario com a arma vermelha, branca e preta na mesa de centro de sua sala, que, segundo ela, custou R$ 95 em uma feira. Ela faz a guerra de bolinhas com um grupo de três amigos em uma quadra, perto de casa. “Eu realmente acho que essa brincadeira está tirando muita gente da internet, de casa. Só que o pessoal não está sabendo aproveitar direito”, afirmou. “Acho que está começando a ficar meio tenso. Quando eles se juntam não é só na balinha não, rola briga também”.